Programação especial homenageia André Rebouças na Politécnica-UFRJ

Publicado em: 01/07/2022 Escola Politécnica da UFRJ
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Evento trouxe ao público a ópera “O Engenheiro”, de Tim Rescala, e mesa-redonda sobre a história do primeiro engenheiro negro do Brasil

“Um engenheiro que encarnou o espírito do verdadeiro engenheiro politécnico”, assim definiu a diretora da Escola Politécnica da UFRJ, Cláudia Morgado, a trajetória de André Rebouças durante mesa-redonda que tratou de um dos grandes engenheiros brasileiros da época do Império e um dos principais abolicionistas de seu tempo. A vida de Rebouças — primeiro engenheiro negro do país, foi amplamente destacada em programação realizada no início de julho, no Centro de Tecnologia.

Na tarde do dia 5, aconteceu a mesa-redonda “André Rebouças: um homem além do seu tempo”, com o objetivo de debater temas como igualdade, liberdade, cidadania, história e cultura afro-brasileira, além de tratar dos importantes aspectos da vida do engenheiro, especialmente sobre as suas influências na Engenharia. O bate-papo teve a participação da bibliotecária e pesquisadora do grupo GEORGEA/CNPQ, Nanci Simão da Rocha; do diretor da Escola de Música da UFRJ, Ronal Silveira; com moderação da diretora da Politécnica-UFRJ, Cláudia Morgado; além de contar com apresentação de trechos da ópera “O Engenheiro”, com os barítonos e mestrandos em canto pela UFRJ, Paulo Maria e Tiago Cirino.

“Ele era a prova viva da excepcionalidade de uma pessoa. Uma figura emblemática, não só na Engenharia, mas também na história do país, sendo lembrado sempre por suas obras e seus feitos”, comentou a diretora da Politécnica, que em sua apresentação lembrou de uma de suas maiores e mais ousadas obras de Engenharia, a construção da Ferrovia Paranaguá-Curitiba, com um trajeto de 108 km, ligando a capital paranaense à cidade de Paranaguá, onde está localizado um dos principais portos da região sul do Brasil.

Em discurso emocionante, Nanci apresentou um acervo raro do “Dr. André” –- como ela gosta de chamá-lo, com documentos e trechos de livros, que traziam aspectos sobre o papel de André Rebouças naquela época. Entre eles, um livro que mostra a relação dele com advogados abolicionistas norte-americanos, que pode ser encontrado no Clube de Engenharia; e um texto assinado pelo engenheiro para inauguração de um novo curso para mulheres no Liceu de Artes e Ofícios.

“Em 2013 comecei a estudar este ilustre personagem, que travou uma luta para o compartilhamento de informação, educação, liberdade e igualdade. É emocionante poder falar de um homem tão necessário nos dias de hoje e de alguém que me despertou o interesse por acervos raros e divulgação da sua história”, destacou a bibliotecária.

Já no dia 6, o auditório Horta Barbosa recebeu a ópera “O Engenheiro”, de Tim Rescala. A trama fala sobre a proximidade de André Rebouças com a Família Real e a sua atuação nos bastidores do emblemático 15 de novembro, com abordagem da visão do engenheiro sobre a escravidão, das reações conturbadas ao acontecimento, até seu exílio.

A sobrinha-bisneta de André Rebouças, Ana Maria Enout Rebouças, acompanhou a ópera e se disse honrada pelo convite. “Fiquei satisfeita com o que vi, principalmente por manterem essa memória viva. Foi um espetáculo bonito e que certamente comoveu as pessoas”, contou.

Ao lado de Machado de Assis e José do Patrocínio, André Rebouças foi um dos representantes da pequena classe média negra em ascensão no Segundo Reinado e uma das vozes mais importantes em prol do abolicionismo no Brasil. Ao lado de Joaquim Nabuco e outras importantes figuras, ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão.

A obra teve direção musical de Inácio de Nonno, direção cênica de José Henrique Moreira e direção de movimento de Marcellus Ferreira. O espetáculo contou com a participação da Orquestra Sinfônica da UFRJ, com regência de André Cardoso, Diana Sosa e Rafael de Miranda. A direção geral é dos professores Andrea Adour, Homero Velho e Lenine Santos.

Tecnologia em prol de um melhor espetáculo

Na ocasião, o professor da Escola Politécnica Fernando Castro Pinto gravou o espetáculo utilizando uma tecnologia desenvolvida pelo Laboratório de Acústica e Vibrações (Lavi). O equipamento faz medições relacionadas à acústica, que reproduzem a forma com que a pessoa escuta. “Posso colocar o microfone para gravar o som, mas quando você está escutando, na verdade, o seu corpo está interferindo no campo acústico. Uma forma de você gravar isso com maior fidelidade para reprodução ou análise posterior, é com o uso de torsos de medição”, explicou o professor.

Segundo ele, trata-se de um aparelho que pode ser usado com um custo mais acessível para pesquisas e outras aplicações, entre elas na indústria automotiva e aeronáutica, se comparado a opções vendidas pelo mercado. “Com a gravação deste espetáculo podemos demonstrar as diferenças de acústicas nos ambientes em que são feitas as apresentações. Através das métricas, podemos acertar a acústica das salas e com isso melhorar a qualidade do espetáculo oferecido ao público”, concluiu.

Acesse o site do evento

*Atualizado em 14/07/2022