Perspectivas e desafios do setor nuclear para os próximos anos

Professores do Departamento de Engenharia Nuclear da Politécnica/UFRJ entendem que a conclusão de Angra 3 e o desenvolvimento de reatores nucleares de pequeno porte e de micro reatores devem ser as prioridades do novo governo.

Publicado em: 07/02/2023 Escola Politécnica da UFRJ
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O mundo vive numa encruzilhada energética, em que ainda existe grande dependência de diversos países com a geração de energia a partir dos combustíveis fósseis, o que torna o cenário cada vez mais desafiador do ponto de vista de desenvolvimento sustentável. Fonte de energia limpa, competitiva e de baixa emissão de CO², a energia nuclear se destaca como uma possível alternativa na matriz energética, mas o seu avanço depende exclusivamente de políticas de Estado, que demandam também investimentos em pesquisa, ensino e inovação.

Convidados para opinarem sobre o assunto, os professores do Departamento de Engenharia Nuclear (DNC) da Escola Politécnica da UFRJ Su Jian, Aquilino Senra e Alessandro Cruz apontaram as principais expectativas do setor para os próximos anos, em busca da autossuficiência e da soberania nacional.

Para os três especialistas, entre os desafios primários que vão abrir o caminho para todos os demais projetos estão a conclusão da usina nuclear de Angra 3; o desenvolvimento de Reator Pequeno Modular (SMR) para a cogeração de eletricidade e dessalinização para regiões de demanda de água potável e eletricidade; a construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) para a autonomia da produção de radiofármacos, essenciais para atender a demanda reprimida da medicina nuclear no país; e a criação de Micro Reator Modular (MMR) para geração de eletricidade subsea ou em plataforma flutuante, aplicado na produção de petróleo e gás offshore.

“O Estado precisa tomar ações imediatas para a conclusão acelerada de Angra 3. Além disso, é necessário iniciar a construção destas novas usinas nucleares com reatores avançados e inerentemente seguros, visando a entrada em operação comercial de duas usinas novas por ano a partir de 2030”, destacou o professor Su Jian, chefe do DNC.

Já Aquilino Senra entende que chegou a hora da transformação das matrizes energéticas, a chamada transição energética, dos países industrializados. “É necessário reduzir a vulnerabilidade da matriz elétrica fortemente concentrada em fontes renováveis, que são intermitentes, sazonais e sujeitas aos efeitos das mudanças climáticas. A solução para esta vulnerabilidade está no desenvolvimento de fontes não-renováveis de energia que atuem na base da matriz elétrica tal como a energia nuclear. A energia nuclear é comprovadamente a que menos emite gases do efeito estufa em todo seu ciclo de vida”, sinalizou o professor.

Responsável pela formulação da política nuclear no país, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – que terá como ministra a engenheira eletricista Luciana Santos, assumiu o compromisso com a expansão e consolidação do Sistema Nacional de CT&I. “A expectativa é boa, considerando as primeiras declarações públicas da ministra sobre o desenvolvimento da tecnologia nuclear. Acho que irá desempenhar um papel importante na reestruturação do setor nuclear”, avaliou Senra.

Recentemente, o governo brasileiro também anunciou que estuda uma parceria nuclear com a Argentina para o desenvolvimento de SMR e do RMB, e na geração de energia nuclear em geral. “Considero bem oportuno que os países latinos unam forças no sentido de consolidar a tecnologia nuclear. Parceria bem-posta salvaguardando os sigilos tecnológicos poderá fortalecer ambos os países”, considerou o professor Alessandro Cruz.

Ele também destacou que este tipo de avanço é essencial para o fortalecimento do mercado e abertura de oportunidades para futuros egressos da Politécnica-UFRJ. “Quase todos os egressos, desde a primeira turma, em 2014, até a última estão sendo alocados no mercado de trabalho nacional e internacional. A maior parte deles têm sido absorvidos pela Amazul, Comissão Nacional de Energia Nuclear, Westinghouse, Framatome e universidades americanas”.

O chefe do DNC, Su Jian, reforçou: “A UFRJ vem formando recursos humanos de alta qualidade em Engenharia Nuclear nos níveis de mestrado e doutorado desde 1968 e no nível de graduação desde 2010. Junto com outras universidades e institutos de ciência e tecnologia, promovemos excelência no ensino, pesquisa, desenvolvimento e extensão no setor nuclear do país.”