“Foi o caos generalizado.” Assim Camile Gonçalves (3º período, Naval e Oceânica), que responde pela diretoria de Comunicação do Centro Acadêmico de Engenharia da UFRJ (CAEng), resume a situação da organização estudantil há pouco mais de um ano, quando as aulas foram suspensas em função da pandemia de Covid-19.
Da suspensão das aulas em março até a retomada do Período Letivo Especial (PLE), em agosto, foram dias de trabalho intenso e de reestruturação no CAEng. E desde então, as aulas remotas trouxeram uma rotina diferente para a militância estudantil.
Para começar, o mandato da chapa atual que terminaria em maio foi estendido, e pactuado em assembleia remota o adiamento da eleição para o retorno das aulas presenciais. Com isso, alguns integrantes da diretoria não puderam continuar nos seus cargos por conta de estágios e outros compromissos.
“2020 foi um ano com muitos altos e baixos com a saída de membros da equipe. Apesar de defendermos a eleição, sempre valorizamos a gestão colaborativa, agregando estudantes dispostos a ajudar. Então absorvemos novos integrantes. Inclusive, no início deste período, entraram dois calouros”, comenta a presidente do CAEng, Thais Pessoa (9º período da Naval e Oceânica).
Ela conta que no ano passado, nos meses sem aula, o Centro Acadêmico lidou com muitas demandas novas e a preocupação dos alunos com a retomada do ensino. O CAEng que regularmente participa de todos os órgãos colegiados da UFRJ – pelo menos oito reuniões mensais – passou a fazer parte do Gabinete de Crise da Politécnica, que reunia semanalmente a diretoria da Escola Politécnica e funcionários administrativos para tratar dos desafios impostos pela pandemia. Entre os quais, garantir a inclusão digital de todos os alunos no retorno das aulas de forma remota..
Além da questão dos alunos sem acesso à internet e equipamentos, logo nos primeiros meses da pandemia, os integrantes do CAEng, do Diretório Acadêmico de Engenharia Química (DAEQ) e da Atlética identificaram a necessidade de ajudar um público fora do universo estudantil. Os cerca de 80 permissionários do Centro de Tecnologia (CT) que ficaram sem fonte de renda. Abriram, então, mais uma frente de atuação. Desde maio a Campanha CT Solidário vem recolhendo doações para distribuição de cestas básicas e kits de higiene.
FOCO NA COMUNICAÇÃO
“A comunicação sempre foi um gargalo no presencial e no remoto também é. Fazemos um milhão de reuniões e precisamos divulgar tudo. Manter os alunos informados sempre foi um desafio. Já tínhamos uma política de atuação forte nas redes sociais e por email. Mas com aulas presenciais podemos reforçar o retorno aos alunos, passando nas salas de aula”, assinala Thais. Ela destaca a atuação dos companheiros Camile, na Diretoria de Comunicação, e Galo Ainstein, responsável pelas artes, na função preponderante de alcançar e interagir com os estudantes da Politécnica nessa fase de política a distância.
“Nossas redes cresceram muito. É difícil saber se a comunicação ficou mais efetiva porque no presencial os alunos podiam nos abordar nos corredores, na sede e nas salas. Mas aumentou muito a interação no digital a partir das publicações sobre as nossas iniciativas e outras que divulgamos, como as da direção da Poli em relação à saúde mental, por exemplo. O CAEng virou quase uma ouvidoria. Nos procuram para tudo. A gente tenta cumprir esse papel, mas sobrecarrega. Fiquei quatro dias sem ver o e-mail. Ao abrir, havia 80 mensagens. É muita demanda para encaminhar e tentar resolver”, conta Camile.
RETORNO À PAUTA
No fim do ano, “com a casa arrumada e a rotina de atuação remota incorporada”, o CAEng voltou sua atenção para a campanha por mudanças nas regras da Escola Politécnica relativas ao estágio.
Nosso objetivo, atendendo à demanda dos alunos, é flexibilizar as exigências relacionadas com carga horária e progressão do curso. Na última semana fizemos uma rodada de reuniões com todos os cursos para debater uma proposta da Direção da Escola nesse sentido. Em conjunto com o corpo discente vamos definir a posição do CAEng sobre essa proposta que será apresentada na Congregação ainda este mês”, explica a presidente do CAEng.
Segundo Thais, a flexibilização das regras do estágio é uma das demandas dos estudantes e bandeiras do CAENg não só porque se trata de uma etapa de aprendizado na prática e de um passaporte para entrada no mercado de trabalho. “Muitas vezes a bolsa do estágio é o que garante a permanência do aluno na universidade. E aí esbarramos em outra frente importante do CAEng que é a assistência estudantil. Temos muitos alunos que se mantêm e ainda ajudam em casa com o que recebem estagiando”, observa.
ENSINO E DIVERSIDADE
A diretoria do CAEng também está comprometida em promover mais conscientização sobre diversidade. “Nossa chapa foi eleita com as bandeiras do ensino e da diversidade. Precisamos trazer cada vez mais essa questão para dentro da Poli. Por que não temos mais mulheres professoras nem professoras e professores negros? Homens brancos ainda são maioria entre os formandos. E temos que discutir a inserção dos estudantes LGBTs no mercado de trabalho. Como a Poli vai preparar seus alunos LGBTs, mulheres e pessoas negras para o mercado de trabalho?”, questiona Thaís, acrescentando que o CAEng também mantém a atenção na política nacional.
“Esse grupo que está no CAEng surgiu há seis anos com a plataforma “Menos pressão, mais didática”, deixando claro que a nossa intenção é intervir diretamente nas questões do ensino, da nossa formação. Damos atenção às ameaças, aos ataques à universidade e cortes no orçamento e também à democracia. Temos que olhar as demandas internas sem esquecer que estamos sob uma política geral que nos impacta. Vivemos numa mobilização permanente na defesa do ensino público e de qualidade, e da democracia”, explica a presidente do CAEng.
FAZER A DIFERENÇA E A VOLTA DO ‘OLHO NO OLHO’
Thaís entrou para o Centro Acadêmico, quando estava no quarto período, por estar se sentindo pressionada com a carga de estudos. Começou pela Diretoria de Esportes, em 2017, e nos dois anos seguintes teve mandatos de presidente – o último estendido desde maio do ano passado. “Estava esgotada, mas não queria largar o curso. Não tranquei, mas foquei no CAEng, queria fazer algo que fosse maior do que eu, contribuir para melhorar o ensino de mais pessoas”, conta.
Camile entrou para o CAEng já no primeiro período e também com motivação de transformar. “Participo de outros movimentos sociais. Fui do movimento estudantil no ensino médio. Queria construir uma sociedade melhor para todo mundo. É uma vontade de fazer diferente um espaço que a gente tem. Quando eu entro no Centro de Tecnologia, vejo essa oportunidade dentro do CAEng. Eu me vejo como agente transformador”, conta.
Ao comentar que a motivação dela “de viver a universidade como um todo” é a mesma dos demais estudante que passam pelo CAEng, Camile aproveita para reforçar a dica que dá nas apresentações aos calouros. “Não estudem apenas. Não basta um CR brilhante. E o resto? De qual equipe ou movimento você fez parte? Como você cresceu dentro da universidade? As empresas procuram cada vez mais pessoas que saiam da caixinha, que se movimentem, entendam e interajam. Tem o exercício da liderança também e acho que o CAEng e outras organizações estudantis dão essa noção para gente.”
Para finalizar, Thaís comenta que embora tenha havido ganhos no trabalho de comunicação, e da equipe do CAEng estar afinada trabalhando de forma remota, não vê a hora da retomada de uma rotina presencial. “Faz muita falta o olho no olho”.
Composição do CAEng
Presidência: Thaís Pessoa (Naval e Oceânica)
Patrimônio e finanças: Alessandra Figueiredo (Civil)
Comunicação: Galo Ainstein (Materiais) e Camile Gonçalves (Naval e Oceânica)
Produtos: Ingrid Alves (Naval e Oceânica)
Ensino: Tami Takahashi (Petróleo) e Ana Beatriz Sousa (Metalúrgica e de Materiais)
Diversidade: Thais Bittencourt (Civil) e Leonardo Albuquerque (Ambiental)
Esportes: Ana Célia Siqueira (Naval e Oceânica) e Paulo Carvalho (Eletrônica e de Computação)
Eventos: Thiago Lima (Civil)
Sede: Anderson Patrício (Nuclear)