Os desafios da participação feminina na universidade e no mercado de trabalho são temas de debate na Poli-UFRJ

Publicado em: 06/06/2019 Escola Politécnica da UFRJ
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Foto: Jorge Rodrigues Jorge

A mesa-redonda “Mais Mulheres na Engenharia e seu lugar no desenvolvimento do país #EsseLugarTambémÉMeu”, promovida pela Escola Politécnica da UFRJ, discutiu a importância da presença feminina em cargos de liderança e os desafios no combate à discriminação por gênero, no dia 30 de maio.

Fizeram apresentações sobre o tema e participaram do debate a vice-reitora da UFRJ, Denise Nascimento; a diretora da Poli-USP, Liedi Bernucci; a professora da Coppe/UFRJ, Celina Figueiredo; a futura reitorada UFRJ, Denise Pires; a aluna de Engenharia Naval da Poli-UFRJ e cofundadora do Coletivo ComCiência Feminina, Thais Pessoa; e a diretora da Poli-UFRJ, Cláudia Morgado.

Durante asapresentações foram evidenciados dados que mostram que as mulheres ainda são minoria no ingresso em parte das habilitações da Engenharia, como a Mecânica, Eletrônica, Computação e a Naval, por exemplo,e também sãomuitas vezes preteridas para cargos de poder, ainda que estejam qualificadas para tal.

A professora Celina Figueiredo apresentou exemplos de eventos recentes que também abordaram o tema da presença feminina nas Ciências, mostrando como a falta da presença feminina nesses espaços têm sido questionada. Para ela, a representatividade feminina é necessária para atrair novas mulheres para essa área e citou a professora Cláudia Morgado, primeira diretora mulher da Poli-UFRJ em 226 anos de instituição, e Eliete Bouskela, primeira diretora científica da FAPERJ. “Esses exemplos nos inspiram, nos contagiam.”

A vice-reitora Denise Nascimento assinalou que uma vez que as mulheres conseguem ocupar espaços de destaque, é comum teremo desempenho questionado devido à licença maternidade – questionamento injusto e condenável. Também ressaltou que,embora a desigualdade salarial não ocorra nas universidades, é uma realidade em empresas privadas de engenharia e outras áreas de conhecimento e que é necessário combater ambas situações.

Já as disparidades entre homens e mulheres na Academia Brasileira de Ciências foram apontadas pela futura reitoraDenise Pires. Dos 518 membros titulares da instituição em 2018, somente 14% eram mulheres. Ela defendeu que as mulheres tenham a sua qualificação profissional levada em consideração nos processos decisórios de escolhas de lideranças para evitar um “efeito tesoura” que impede pesquisadoras mulheres de progredirem na carreira científica no mesmo nível que os homens.

“Precisamos que haja políticas relacionadas a esse assunto, por exemplo, projetos de extensão que levem para as meninas do ensino fundamental e médio a ideia de que as mulheres podem entrar em cursos de engenharia e em outras áreas de ciências exatas e devem, se tiverem vontade e talento para a área tecnológica e que mudem o cenário da Academia Brasileira de Ciências”, ressaltou Denise Pires.

LiediBernucci, diretora da Poli-USP, também destacou a importância de ações que retirem o estigma de que Engenharia é para homens e estimulem as jovens antes mesmo de ingressarem na graduação. Em 1977, apenas 4% das mulheres ingressaram na Engenharia da USP e 21 anos depois esse número não chegou nem a 20%, número que pretende reverter com as oficinas que estão sendo promovidas pela Politécnica da USP com alunas do ensino médio. “Não existe nenhuma Engenharia que as mulheres não possam cursar.”

Durante sua palestra, aprofessora Liedi apresentou dados do The Global Gender Gap Report 2017, que concluem: “Quando mulheres e meninas não são integradas – tanto como beneficiária quanto formadora – a comunidade perde habilidades, ideias e perspectivas que são pontos críticos para enfrentar os desafios globais e aproveitar as novas oportunidades.” Outro estudo destacado foi o da Consultoria McKinsey em empresas na América Latina comparando gênero e dados financeiros, no qual fica evidenciado que as companhias que possuem pelo menos uma mulher em seu time de executivos são mais lucrativas. Ela comparou os dados mencionados com a experiência das melhores escolas de Engenharia americanas, que têm aumentado consideravelmente a participação feminina, como Duke University, com  49%, de alunas; Princeton University, 45%; University of Pennsylvania, 46%; Caltech,  31%; Stanford University, 42%; MIT, 37%; e Cornell University, 50%.

A estudante Thais Pessoa assinalou serem poucas as professoras mulheres que conhece na Engenharia. “Vivemos num sistema patriarcal que incentiva os homens a tomarem a liderança, enquanto as mulheres são chamadas a levarem a atenção para o seu corpo, não para a sua mente.”

Cláudia Morgado já tinha anunciado, inclusive, na abertura da mesa-redonda, queo encontro seria o primeiro da Campanha Mais Mulheres na Engenharia. Estão previstas uma série de ações, desde atividades dirigidas ao ensino fundamental e médio, incentivando as alunas que tiverem talento para Engenharia,  a ações de acolhimento dentro do ambiente da Poli-UFRJ. Na Escola, as estudantes contam com a Diretoria Adjunta de Políticas Estudantis (DAPE), que tem, entre outras atribuições, a de oferecer uma rede de apoio e segurança aos alunos em caso de assédio de qualquer natureza.

“A realização desses eventos visam promover o desenvolvimento da cultura sociotécnica e ética, que faz parte das competências do engenheiro do século XXI. Vamos abordar este tema em outros eventos ao longo do ano para ampliar essa discussão tão importante no mundo contemporâneo, que impacta o desenvolvimento econômico e social do país”, resumiu após o encerramento.

Foto: Jorge Rodrigues Jorge
Foto: Jorge Rodrigues Jorge
Foto: Jorge Rodrigues Jorge
Foto: Jorge Rodrigues Jorge
Foto: Jorge Rodrigues Jorge