Entrevista com CAEL, PEL/IAS e SENEL: foco na Engenharia Elétrica

Publicado em: 13/09/2021 Escola Politécnica da UFRJ
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De uma conversa com Rafael Almeida, coordenador da Confraria Acadêmica da Engenharia Elétrica (CAEL), surgiu a proposta desta entrevista com ele e representantes de outras duas organizações para apresentar a atuação e o pensamento de grupos que reúnem estudantes da Engenharia Elétrica. 

Além da perspectiva da CAEL, a entrevista a seguir traz pontos de vista de Hector Trubat, vice-coordenador geral da Semana de Engenharia Elétrica (SENEL) e de Fábio Alves, presidente do Capítulo Estudantil PELS/IAS da UFRJ (PELS/IAS).   Eles comentam sobre as inquietações dos estudantes com a necessidade de atualização do currículo do curso em função das transformações no setor de energia e enfatizam a importância da participação do estudante em equipes, entre outros temas.

A CAEL foi criada em 2017 e desde maio do ano passado conta com Rafael Almeida, Gabriela Lemos e Guilherme Madureira cuidando dos interesses dos alunos junto ao departamento e à direção da Escola Politécnica, interagindo com o CAENG e na atenção voltada ao acolhimento aos calouros.

Já o PELS/IAS reúne os capítulos de Eletrônica de Potência e de Aplicações Industriais do Ramo Estudantil do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) da UFRJ. Foi criado no fim de 2019 e conta com 25 membros, da graduação e pós-graduação,  incluindo alguns professores, que atuam com o objetivo final de divulgar e fomentar a eletrônica de potência. Conta com uma coordenação geral e coordenações de Projetos, de Atividades Acadêmicas e de Marketing.

A SENEL nasceu em 2004, passou por um período de inatividade a partir de 2013 e retornou com força em 2018. Além da realização da edição anual da Semana de Engenharia Elétrica UFRJ, promove visitas técnicas, simpósios, minicursos, entre outros eventos, com foco nos temas e tendências do mercado de trabalho. A equipe conta com a orientação do professor Robson Dias, do Departamento de Engenharia Elétrica (DEE) e, durante a pandemia, conta com as coordenações Geral, Marketing, Programação, Logística, Financeiro, Parcerias e Site. 

Na Semana de Acolhimento aos Calouros de 2020.2, a CAEL convidou a SENEL e  PELS/IAS para participarem da recepção virtual aos ingressantes. Surgiu uma boa interação? 

Rafael (CAEL):  Assim que fomos convidados para nos apresentarmos para os calouros, pensamos em chamá-los porque a nossa experiência à frente da CAEL ainda era pequena e não teríamos muito o que falar. Achamos mais importante eles apresentarem o trabalho que fazem aos calouros.

Fábio (PELS/IAS):  Olha, já havia uma proximidade grande entre SENEL e PELS/IAS, sempre nos apoiamos.  O PELS/IAS é mais específico, a SENEL é mais geral, abrange públicos e assuntos mais diversos que nós. Tem assuntos que para o PELS não seria possível chegar. Então vejo que tem muito espaço e sentido num trabalho conjunto, complementar.  Também com a CAEL, temos que caminhar e buscar aproximação e sinergia. Coincidentemente, amigos meus de curso criaram a confraria.

Hector (SENEL): Acreditamos que estas organizações são extremamente importantes para o complemento da formação acadêmica da Engenharia Elétrica. Cada uma com sua função e com o objetivo comum de tornar acessível o estudo da Engenharia Elétrica e o conhecimento do setor e suas tecnologias, tornando a graduação mais completa. Nada é tão bom que não possa ser melhorado. Nós estamos inseridos em um ambiente muito propício à inovação e à geração de ideias e, claro, alguns pontos podem ser aperfeiçoados e melhorados.

Como a pandemia afetou as atividades da sua organização?

Rafael (CAEL): Nós já começamos durante a pandemia, então tudo que nós fizemos foi a distância.

Fábio (PELS/IAS): Podemos dizer que o capítulo nasceu junto com a pandemia. Antes da quarentena começar, tivemos um evento presencial com um professor internacional visitando a UFRJ, e algumas reuniões gerais do capítulo. Mas com a pandemia, a maioria das atividades das coordenações foi desenvolvida remotamente. O remoto é o nosso “normal”. A grande mudança ocorrerá quando voltarmos ao presencial.

Hector (SENEL):  A pandemia pegou todos de surpresa e foi o momento da equipe se reinventar. Com certeza a equipe já estuda um meio de tornar acessíveis os conteúdos da SENEL quando as atividades voltarem para o modelo presencial. Um ponto que pode ser destacado é a quantidade de membros que cada evento demanda. Enquanto no presencial eram precisos três membros por atividade, no modelo on-line são necessários pelo menos quatro membros em cada apresentação para que o evento seja realizado com qualidade. Mas o remoto trouxe vantagens, além de alcançarmos estudantes de outras instituições, contamos com palestrantes de outros estados.  Dá para trazer mais temas para os alunos da Elétrica. Já estamos pensando como vamos articular essa nova demanda quando o evento voltar a ser presencial. Uma vez que alcançamos outros estados, não dá para deixar isso de fora. Quanto mais diversificado, com mais temas, mais conhecimento compartilhamos.

Quais acreditam ser as inquietações atuais dos alunos da Elétrica? 

Rafael (CAEL): Acho que uma das maiores preocupações dos alunos é a falta de professor no departamento, pois as turmas acabam ficando lotadas e muitos alunos ficam sem vagas. E com isso temos poucas opções de disciplinas optativas também.  Outro problema é o baixo número de bolsas de IC. Com a situação atual do Brasil, cada vez mais alunos estão tendo que procurar alguma forma de renda para se manter na universidade.

Fábio (PELS/IAS):  Acho que além das dificuldades clássicas – cálculos e as físicas, que pegam quase todos e me pegou também – penso que o principal ponto para os alunos da Engenharia Elétrica é a modernização que está acontecendo na área e como a faculdade vai abraçar essa modernização rápida. A Engenharia Elétrica está num ponto de virada muito grande com a entrada em cena das energias renováveis e novas tecnologias. Tem o aquecimento global, a crise hídrica… Tem muita coisa acontecendo e creio que os estudantes ficam apreensivos de como isso vai refletir no ensino da graduação. Quando estava me formando, estava começando essa virada de chave das renováveis, mas agora já é outro ponto, como embarcar nessas mudanças dentro do ensino de graduação? Mas entendo que há um quadro difícil por conta da redução dos investimentos no ensino e dos cortes na área de educação.

Rafael (CAEL): O que respondi casa com o que o Fábio aponta. Não tem como ter atualização do curso se tem pouco professor.  Se os professores ficam sobrecarregados de turma e de alunos, eles não têm tempo de pensar em reforma curricular. No passado, o coordenador chegou a comentar com a representante discente anterior a mim, a intenção de atualização do currículo, mas é difícil avançar. 

Hector (SENEL): Acreditamos que a principal inquietação dos alunos é a entrada para o mercado de trabalho. Para ser mais específico, a sensação de estar preparado para fazer parte das empresas. Além disso, há sempre a discussão para saber se o mercado de trabalho para o engenheiro eletricista está aquecido e se será possível encontrar um estágio que esteja dentro das normas estabelecidas pela UFRJ e que agregue conhecimento aos alunos.

Rafael (CAEL): Em relação a estar preparado para o mercado, os alunos se ressentem de pouca ênfase na questão da programação. Só temos duas matérias no ciclo básico e os alunos têm de procurar fora porque é muito importante para entrar no mercado.

Hector (SENEL): Isso, programação é uma habilidade que o mercado cada vez mais pede e a faculdade teria de investir nisso.

Como é o processo para ingressar nas organizações que representam? Algum em breve?

Rafael (CAEL):  Não temos processo seletivo exatamente. Pretendemos organizar um estatuto, convocar os interessados em participar e convocar eleição. 

Fábio (PELS/IAS): Possivelmente teremos um novo processo seletivo no ano que vem. A procura não é grande como em outras equipes e grupos que existem na faculdade, pois a eletrônica de potência é um nicho dentro da Elétrica, e normalmente só se toma conhecimento desta área no fim do curso. Esta é uma das principais dificuldades do capítulo. 

Hector (SENEL): No momento, está sendo avaliado a abertura de um novo processo seletivo para compor a equipe do 2° semestre letivo de 2021. É realizada uma entrevista com todos os interessados para que seja explicada a dinâmica da SENEL e para que a equipe conheça os objetivos de cada um. 

Qual o principal ganho para os estudantes que participam de organizações como essas que representam? 

Rafael (CAEL): Participar da confraria é ótimo para ter contato com o corpo discente, com os docentes e alunos de outras confrarias. É uma ótima oportunidade de ajudar os alunos a não passarem pelos problemas que você enfrentou. Também ajuda a entender melhor toda a burocracia que existe na UFRJ, as congregações e resoluções que definem a vida de todos os alunos da faculdade.

Fábio (PELS/IAS):  No nosso caso, o ganho de conhecimento técnico próprio da área de Engenharia Elétrica e Eletrônica de Potência, como hard skills.  E tem todo um aprendizado de soft skills, que é aprender a trabalhar em grupo, a correr atrás do seu projeto ou ideia. E o que talvez seja o mais importante é o networking. Conhecer pessoas é tão importante como o diploma. Temos contato com capítulos no Brasil e no mundo todo, com professores de outros países. O nosso foco é mais acadêmico, mas os membros têm uma vivência prática também importante na realização e divulgação das atividades. 

A coordenação de Marketing, por exemplo, passa para o membro algumas importantes habilidades: condensar ideias complexas em poucas palavras, de forma a ser compreensível a uma pessoa de fora da área ou a um possível comprador/contratante, a vender a ideia de maneira gráfica, e não só técnica. O grande defeito do engenheiro é só se concentrar na parte matemática e técnica, e a coordenação de Marketing vem exatamente para criar a habilidade de se comunicar com pessoas de dentro e fora da área de conhecimento.

Hector (SENEL):   Trabalho em equipe, conhecimento dos assuntos importantes do setor, networking, organização, comunicação, liderança e tomada de decisão. Essas são algumas das experiências adquiridas pelos membros da SENEL. São habilidades importantes que agregam muito valor em processos seletivos e para crescimento profissional.

Tenho uma visão de que as três organizações têm o mesmo objetivo que é melhorar a experiência dos estudantes na passagem pela universidade. Participar de uma das três, ou de outras organizações semelhantes, proporciona o sentimento de estar contribuindo, participando. Traz sensação de pertencimento.

Gostariam de sugerir ou falar de algum outro tema não mencionado?

Rafael (CAEL): Queria dizer que achei muito interessante participar dessa entrevista. No momento em que vivemos, dar espaço para os alunos mostrarem o que pensam, é muito valioso.

Fábio (PELS/IAS): Aproveitando o tema da conversa, queria dizer que é muito proveitoso para os alunos de graduação se engajarem em organizações como as nossas, nas equipes de competição, aproveitar os laboratórios. Há muitas oportunidades de aprendizado além das salas de aula. 

Hector (SENEL): Também gostaria de reforçar para os alunos se engajarem nas organizações, sejam as nossas, outras e as equipes de competição. Participar delas pode valer mais que um CR alto. Estudar é muito importante, mas as empresas ao recrutarem querem saber das nossas habilidades, como nos saímos em situações difíceis. E se enturmar no Bloco H traz um crescimento que só a sala de aula não dá.